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Uma breve história sobre os talheres

Uma breve história sobre os talheres

O ato de comer vai muito além de uma necessidade biológica, fisiológica ou nutricional, e passa a constituir atitudes ligadas aos usos, costumes, protocolos, condutas e situações, pois a maneira de atendermos a esta necessidade vital humana varia drasticamente em diferentes épocas e lugares, por revelar com quase exatidão a época e o lugar em que vivemos.

Embora, pouco ou quase nada se fale sobre o uso da tecnologia para melhor nos alimentarmos ao logo dos milênios, a verdade é que contamos com o seu uso há milhares de anos, diga-se de passagem, desde os primeiros seres humanos da Idade da Pedra, os quais cortavam os alimentos crus com lascas de pedras afiadas.

A palavra “tecnologia” na acepção que ora é empregada, nada tem a ver com o uso da robótica, uma vez que o termo vem do grego Tékhné que significa arte, habilidade ou arte manual, e logia que quer dizer, estudo de algo, portanto, hora o termo significa as próprias ferramentas, ora se refere ao saber inventivo que as possibilitou.

Ao longo do tempo e com a ajuda da tecnologia houve transformações significativas no comportamento humano no seu modo de pensar, sentir e falar, afetando a linguagem e as formas consideradas adequadas para a interação social, como por exemplo, o modo que se comportava à mesa, o gesto de lavar as mãos antes das refeições, o uso de talheres e guardanapos, entre outros comportamentos considerados “civilizados”.

O habito de usar talheres em suas refeições é bem antigo, e começou pela faca que a princípio era o único instrumento utilizado pelo homem pré-histórico, logo depois, surgiu a colher que é descendente das conchas que servem de carapaça para os moluscos, e por fim, o homem descobre o garfo como utensílio derivado dos espetos, para compor o trio que hoje utilizamos e que é muito comum usarmos em nossas refeições diárias.

As facas começaram a ser usadas para cravar, desossar, cortar e picar, este instrumento surgiu da necessidade do homem ou em alguns casos, para resolverem problemas particulares, o certo é que a faca era transportada na cintura e na hora da alimentação, o homem primitivo levava a carne até a boca e a cortava com a faca junto ao dente. Por sua natureza perigosa, este utensilio era associado ao poder, pois poderia ser usado para atacar, ferir e abater os adversários, por isso, ao longo do tempo foi sofrendo variações e formatos e quando ganha status de utensilio a ser utilizado à mesa, houveram inúmeras proibições e restrições.

Quando surgiram os manuais de etiqueta no século XIII, estes também tratavam das regras de comportamento à mesa, e passaram a mostrar as variedades de facas, tamanhos, pontas e o fio das laminas. Porém, somente na Idade Média e no Renascimento com a arte da cutelaria, foi que as facas chegaram ao auge do refinamento, naquele período, quanto mais trabalhada a faca, maior era o status conferido ao seu dono. Naquela época, as laminas já possuíam a sua função prática à mesa, todavia, os cabos variavam de material, que poderiam ser em ébano, marfim, porcelana da China ou cerâmica vitrificada de Delft, pedras preciosas e muitas vezes personalizadas com as mais diversas esculturas.

Na França do século XIV, os Reis usavam as facas de acordo com o calendário religioso, por exemplo: usava-se as facas com cabos em ébano durante a Quaresma e as com o cabo em marfim durante a festa do Pentecostes.

As colheres estão entre os mais antigos utensílios alimentares, se originaram de invólucros naturais, como por exemplo os moluscos, e a princípio não precisaram ser construídas, são usadas até hoje, em alimentos que possuem consistência pastosa ou líquida, este alimentos por dispensarem a mastigação, atiçam mais rapidamente às sensações gustativas.

As primeiras colheres foram elaboradas em osso e pedra, depois em madeira e metal, não há informações precisas de quando este instrumento se tornou obrigatório para os povos ocidentais, porém, existem evidencias do seu uso nos banquetes de Roma Imperial. Os romanos as utilizavam para mexer e servir molhos, bem como para a retirada dos moluscos das conchas e leva-los a boca, também serviam para comer ovos, alimento que os romanos apreciavam comer crus.

A palavra cochlear veio de cochlea que significa caracol, em italiano é chamada cucchiaio, em espanhol cucharra, em francês cuiller ou cuillère e em português o termo é colher. Tanto a cochlear quanto a colher moderna, tiveram seu principal uso na culinária, diferentemente da faca, por serem versáteis, e capazes de auxiliar em diversas tarefas, tais como: misturar, mexer, servir, levar à boca diversos alimentos que são impossíveis de serem transportados somente com o uso da faca e do garfo .

O garfo até o século XVIII, era um utensilio dispensável por nobres e plebeus, por isto, foi o último elemento a ser incorporado no trio de talheres, posto que era hábito as pessoas comerem com as mãos, usavam a faca para trinchar grandes peças de carnes e a colher para caldos. Quando o garfo ganhou espaço à mesa , recebeu algumas das funções que antes pertenciam a faca.

Os primeiros registros do uso do garfo no Continente Europeu, deu-se em Veneza no início do século XI, através da princesa Teodora filha de Constantino XI (Imperador do Oriente), ela usava o talher, que tinha naquela época dois dentes, para espetar os alimentos e leva-los a boca, era assim que comia as frutas cristalizadas sem sujar as mãos. Mais tarde, o uso do objete foi assimilado pela população local, e como tudo que Veneza adotava virava moda nas cortes de Milão e Florença, o utensilio caiu nas graças das respectivas cortes.

Florença era dominada pelos Médices, família rica e poderosa de banqueiros e comerciantes, a terra natal de Catarina, futura rainha da França, que casou-se mais tarde com o rei da França Henrique II, e ao se mudar para a corte francesa levou  junto aos seus pertences um jogo de talher completo, pois o utensilio, à época, já era utilizado de forma corrente na italiana.

A novidade foi recebida pelos franceses como uma sofisticação desnecessária, e para os cozinheiros da corte, o metal do qual era feito o garfo interferia no sabor dos alimentos. Naquela época a ausência do garfo na mesa dos franceses não era visto como um descaso com a etiqueta.

A corte inglesa até o início do século XVII, desconhecia o utensilio e se surpreenderam ao descobrir o uso do mesmo pelos italianos, onde já era utilizado por todos no País, eram feitos de ferro ou aço e só os nobres utilizavam o objeto em prata, foi, então, que o garfo começou lentamente a ser adotado pelos ingleses.

O uso do garfo pelo portugueses começou a partir de 1836, quando o príncipe Fernando de Saxe-Coburgo-Gotha, convenceu a esposa, D. Maria II, filha do Imperador Dom Pedro II, a adotar o uso do garfo.

No século XVIII, o garfo já era usado por toda a Europa, porém a corte francesa no intuito de se distinguir das demais, converteu o seu uso em símbolo de luxo e categoria.

O terceiro dente do objeto não se sabe ao certo quando surgiu, já o seu quarto dente, dizem que foi no fim do século XVII, no Reino de Nápoles na Itália.

A sofisticação em torno dos talheres tomou relevância no século XIX, tanto é verdade que, os jogos já incluíam dezenas de peças especializadas, e nestes, haviam pelo menos quatro garfos diferentes, e o uso de todas as peças pelo anfitrião em um único evento era sinônimo de status social.

 

Fontes:

http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/1843/BUBD-A6EJN5/mestrado___johelma_pires___junho_2015___vers_o_para_biblioteca_ago_2015.pdf?sequence=1

WILSON, BEE. Pense no garfo!: Uma história da cozinha e de como comemos. 1.ed. Londres: ZAHAR EDITOR LTDA, 2012. P. 07-23.

 


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